quinta-feira, 24 de abril de 2025

Relatório de Valuation de Ações Estimadas por Machine Learning: Sabesp ON NM (SBSP3)

Há muitos anos pesquiso sobre modelos de valuation de ações por fluxo de caixa descontado. Publiquei trabalhos sobre o assunto em eventos internacionais de finanças, como o World Finance Conference, o Encontro Brasileiro de Finanças e também o Encontro da Sociedade Brasileira de Econometria.

Ensinei também estes modelos em cursos de Economia Computacional e Economia Monetária no Mestrado e Doutorado em Economia da UFPEL. A partir desta experiência acumulada, decidi divulgar os resultados de seis modelos de valuation por machine learning (ML). Cinco deles são os mais importantes da literatura e o sexto modelo foi desenvolvido por mim. A implementação dos cinco modelos em ML também é uma contribuição minha. São eles: Myers (1974), Miles & Ezzell (1980),  HPR - Harris & Pringle (1985) e Ruback (1995), Damodaran (1994), Fernández (2004 e 2008) e Passos (2025). 

Os softwares utilizados são: o RStudio, para a coleta dos dados (web scraping) ; o Wolfram Mathematica, para a modelagem mais complexa dos cálculos de valuation e dos algoritmos de ML e, finalmente, o Excel para a elaboração dos gráficos.

Estes resultados são para divulgação científica e não recomendações de investimentos, ok? Dito isto, vamos às estimativas de upsides da ação SBSP3 (Sabesp ON NM) e alguns comentários sobre esta empresa. 

O gráfico 1 mostra que o potencial de alta (upside) de SBSP3 é promissor em todos os modelos rodados. Meu modelo (Passos, 2025) e o do mais renomado avaliador de ações do mundo (Damodaran, 1994), foram os mais conservadores. O meu estimou uma alta de 20,23%, o dele estimou 17,83%. Os outros 4 modelos alcançaram os mesmos resultados, considerando uma margem de erro de 2,5 pontos porcentuais. 

A Sabesp é uma das maiores empresas de saneamento do mundo. Quando alguém desavisado olha seus indicadores de estrutura de capital, pode achar que ela é muito endividada. E ela é mesmo. Mas empresas de saneamento são assim: carecem recursos de terceiros para suas despesas de manutenção e, sobretudo, para aumentar seus investimentos. Emprestam uma parte deste capital e pagam bons proventos para atrair investidores em suas ações. 

Porém, a Sabesp tem previsibilidade na sua geração de caixa. Tem receitas recorrentes e a rentabilidade alta e constante (a média do ROE - Return on Equity - dos últimos 12 trimestres é de 35,21%).

A palavra "perenidade" descreve bem os fluxos de caixa para o acionista da Sabesp. A companhia é uma das preferidas dos acionistas buy-and-hold e está sempre em listas de empresas boas pagadoras de dividendos. 


Mas como traduzir estas estimativas em valores monetários? Qual o preço que ação pode atingir no médio prazo ou mais ao longo?  O gráfico 2 mostra que os valores intrínsecos da SBSP3, pelo meu modelo e o do Damodaran são, respectivamente, R$ 135,39 e R$ 132,69.  Destaco que o preço de fechamento da ação ontem (23 de abril de 2025) foi de R$ 112,61. Ou seja, quem comprou  ação ontem, pode obter um lucro por ação de R$ 22,78, pelo meu modelo (Passos, 2025); ou de R$ 20,08, pelo modelo do Damodaran (1994). 


Mas, a pergunta que não quer calar: e se a ação cair? Resposta: como se trata de uma ação boa pagadora de dividendos, um acionista buy-and holder aproveitaria para comprar mais e aproveitar a baixa. Não se esqueça: este potencial de alta é para o médio prazo (em uma perspectiva otimista) ou para o longo (no pior cenário). De qualquer forma, quem compra ações pensando em dividendos, não fica tão preso aos ciclos de altas e baixas do ativo. Como o foco é no longo prazo, ele reinveste os dividendos e vai acumulando patrimônio até que a ação deixe de pagar dividendos, o que, no caso das empresas de saneamento não costuma ocorrer. 

Bem, voltarei a publicar mais resultados em breve, quando minha agenda permitir. Por ora, vou aguardar que esta ação - que já está em alta - suba ainda mais, conforme os modelos apontam. Quando isto ocorrer, abro uma champanhe e venho comemorar com vocês, ok?










terça-feira, 8 de abril de 2025

A possível recessão global e a política monetária

Em razão da guerra tarifária iniciada por Donald Trump, os preços do barril de petróleo do tipo Brent recuaram 20% em poucos dias. Chegou a atingir o menor preço desde 2020, nos meses mais críticos críticos da pandemia de Covid 19: 62 dólares por barril. 

Uma queda deste tipo pode contribuir para reduzir as pressões de custos sobre preços de bens finais aqui no Brasil, sobretudo aqueles que são muito dependentes de fretes, combustíveis e outras despesas de transporte. 

Porém, por outro lado, as quedas nas cotações de muitas commodities sinalizam que existe uma alta probabilidade de recessão global nos próximos 12 meses. Conforme as estimativas do departamento econômico do J. P. Morgan, este risco  aumentou de 40% para 60%. Tais quedas podem afetar o país no curto prazo, ainda que, no médio e longo prazos, a ocorrência de desvios de comércio podem vir a beneficiar nosso agronegócio, pois países europeus e asiáticos possivelmente passarão a importar menos bens primários dos EUA. Com isto, o Brasil pode conquistar mercados que há anos tem sido fechados aos nossos produtos. Se isto ocorrer,  pode haver uma queda na rentabilidade das exportações (em razão da queda dos preços das commodities). Mas tal queda pode vir a ser compensada por maior quantum exportado.    

Além disso, a alta da taxa nominal de câmbio, que chegou quase ao patamar crítico de R$ 6,00 nesta terça-feira (08/04/2025), pressiona a inflação também pelo lado dos custos. Assim, alguns produtos poderão ter seus preços aumentados, sobretudo aqueles que são afetados pelo dólar mais caro. São bens de consumo que possuem na sua composição muitos insumos importados, como pães, eletrônicos, fertilizantes, medicamentos entre outros.

Dado que o Banco Central ainda não sinalizou um corte da taxa básica de juros, fica a dúvida sobre qual dos dois efeitos irá pesar mais na próxima reunião do Copom: a recessão global ou as pressões de custos advindas de uma taxa de câmbio mais depreciada? 

Se o BC considerar o primeiro fator como preponderante, ele tenderá a manter a taxa Selic no mesmo patamar em que está hoje (14.25% ao ano). Todavia, se optar por considerar o chamado efeito ultrapassagem (pass through), que é o aumento da inflação provocado pelo aumento da taxa de câmbio, ele poderá elevar  um pouco os juros básicos (hipótese que considero ser menos provável). 

Mas há ainda quase um mês para os diretores do BC avaliarem o cenário internacional e seus possíveis efeitos sobre a economia brasileira. A próxima reunião do Copom será nos dias 6 e 7 de maio. 

Exatamente como previ: A ação ordinária da Sabesp atingiu o preço-alvo que estimei

Na postagem de 24 de abril deste ano, elaborei o relatório de valuation da ação ordinária da Sabesp (SBSP3). O relatório completo está aqui ...