terça-feira, 8 de abril de 2025

A possível recessão global e a política monetária

Em razão da guerra tarifária iniciada por Donald Trump, os preços do barril de petróleo do tipo Brent recuaram 20% em poucos dias. Chegou a atingir o menor preço desde 2020, nos meses mais críticos críticos da pandemia de Covid 19: 62 dólares por barril. 

Uma queda deste tipo pode contribuir para reduzir as pressões de custos sobre preços de bens finais aqui no Brasil, sobretudo aqueles que são muito dependentes de fretes, combustíveis e outras despesas de transporte. 

Porém, por outro lado, as quedas nas cotações de muitas commodities sinalizam que existe uma alta probabilidade de recessão global nos próximos 12 meses. Conforme as estimativas do departamento econômico do J. P. Morgan, este risco  aumentou de 40% para 60%. Tais quedas podem afetar o país no curto prazo, ainda que, no médio e longo prazos, a ocorrência de desvios de comércio podem vir a beneficiar nosso agronegócio, pois países europeus e asiáticos possivelmente passarão a importar menos bens primários dos EUA. Com isto, o Brasil pode conquistar mercados que há anos tem sido fechados aos nossos produtos. Se isto ocorrer,  pode haver uma queda na rentabilidade das exportações (em razão da queda dos preços das commodities). Mas tal queda pode vir a ser compensada por maior quantum exportado.    

Além disso, a alta da taxa nominal de câmbio, que chegou quase ao patamar crítico de R$ 6,00 nesta terça-feira (08/04/2025), pressiona a inflação também pelo lado dos custos. Assim, alguns produtos poderão ter seus preços aumentados, sobretudo aqueles que são afetados pelo dólar mais caro. São bens de consumo que possuem na sua composição muitos insumos importados, como pães, eletrônicos, fertilizantes, medicamentos entre outros.

Dado que o Banco Central ainda não sinalizou um corte da taxa básica de juros, fica a dúvida sobre qual dos dois efeitos irá pesar mais na próxima reunião do Copom: a recessão global ou as pressões de custos advindas de uma taxa de câmbio mais depreciada? 

Se o BC considerar o primeiro fator como preponderante, ele tenderá a manter a taxa Selic no mesmo patamar em que está hoje (14.25% ao ano). Todavia, se optar por considerar o chamado efeito ultrapassagem (pass through), que é o aumento da inflação provocado pelo aumento da taxa de câmbio, ele poderá elevar  um pouco os juros básicos (hipótese que considero ser menos provável). 

Mas há ainda quase um mês para os diretores do BC avaliarem o cenário internacional e seus possíveis efeitos sobre a economia brasileira. A próxima reunião do Copom será nos dias 6 e 7 de maio. 

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