A estimativa do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) em relação ao novo programa de crédito consignado para empregados da iniciativa privada, o Crédito do Trabalhador, é de que o volume de recursos emprestados atinja aproximadamente R$ 120 bilhões já nos primeiros meses de vigência do programa recém-lançado. O programa prevê o uso do FGTS como garantia.
O FGTS foi lançado no início do regime militar. Ideia de Roberto Campos e Octavio Gouvêa de Bulhões para aumentar os níveis de poupança privada do país. Foi concebido como um mecanismo institucional para promover a chamada "poupança forçada"", visando aumentar o investimento e a geração de empregos no longo prazo. Funcionou, pois nos anos seguintes o país vivenciou a década de maior crescimento em sua história.
A maior parte destes R$ 120 bilhões, novamente segundo o MTE, será destinado à renegociação de dívidas. Conforme a reportagem da CNN Brasil, o governo espera que cerca de R$ 40 bilhões do referido valor venha da troca dos antigos créditos privados já contratados pelo novo crédito consignado. O governo espera também que entre R$ 60 bilhões e R$ 80 bilhões venham da transferência dos empréstimos contraídos no Crédito Direto ao Consumidor (CDC), que possuem juros bem mais altos, para o novo Crédito do Trabalhador, que tem taxas menores.
O presidente Lula e sua fiel escudeira no Congresso, Gleisi Hoffman, já anunciam com estardalhaço a nova medida, na tentativa de melhorar os índices de aprovação do governo. Estes índices atingiram os piores patamares ao longo dos três mandatos do atual chefe do Executivo.
Todavia, qualquer pessoa com conhecimento mediano de Economia pode intuir que estes empréstimos não servirão apenas para saldar ou reescalonar dívidas anteriores. Grande parcela destes empréstimos certamente irá para estimular o consumo das famílias, impulsionando a inflação, pois a capacidade ociosa do setor industrial está baixa e a inflação esperada para 2024 está acima da meta, conforme dados do Relatório Focus do Banco Central.
Com isto, o governo do PT cede novamente à tentação de praticar populismo econômico. Incorre em um erro que na literatura macroeconômica chama-se "inconsistência dinâmica" ou "inconsistência intertemporal". Traduzindo: o erro de implementar políticas que estimulam a atividade econômica no curto prazo, mas que, no longo, podem trazer problemas sérios de aumento da inflação, recessão ou a chamada dominância fiscal.
A dominância fiscal - patologia que acometeu o segundo mandato da ex-presidente Dilma Rousseff e nos trouxe a pior recessão da História da República - surge quando os agentes desconfiam da política fiscal do governo e a inflação não cede mesmo com juros reais muito elevados. E o nosso juro real, que é a taxa Selic descontada da inflação esperada, já é o quarto maior do mundo (conforme a tabela).
Link para o artigo da CNN Brasil:
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