terça-feira, 22 de julho de 2025

Relatório de valuation da ação VALE3 (Vale ON NM)

A ação ordinária nominativa da Vale (VALE ON NM ou VALE3) será o objeto da análise de valuation de hoje. Vamos determinar o valor intrínseco desta ação utilizando seis modelos de valuation por machine learning (ML). Cinco deles são muito conhecidos na literatura e são amplamente utilizados. O sexto modelo foi desenvolvido por mim, que também fiz a codificação dos outros cinco em algoritmos de ML . 

Os modelos rodados com os dados da Vale (dados dos últimos 60 demonstrativos trimestrais) são: Myers (1974), Miles & Ezzell (1980),  HPR - Harris & Pringle (1985) e Ruback (1995), Damodaran (1994), Fernández (2004 e 2008) e Passos (2025). 

É importante destacar que o foco do blog é  fazer divulgação científica. Assim, estes resultados estimados não devem ser considerados como recomendações de investimentos. Não são, de forma alguma, "dicas" de investimento. 

Inicialmente, alguns breves comentários sobre a situação econômico-financeira da empresa, dentro de uma perspectiva fundamentalista.

Em termos de lucratividade, a Vale apresentou um ROE (return on equity ou rentabilidade do patrimônio líquido) de 44,44% no primeiro trimestre de 2025. E a média do ROE nos últimos 12 trimestres foi de expressivos 73,64%. Ainda no primeiro trimestre (Q1) deste ano, a Vale gerou uma receita de US$ 8,12 bi (queda de 4% em relação ao ano anterior), além de um EBITDA ajustado de US$ 3,12 bi (–9%) e lucro líquido de US$ 1,396 bi (–17%) . 

Em 2024, o EBITDA totalizou US$ 15,4 bi (queda de 22% em relação à 2023) e o Free Cash Flow (FCF) recorrente de US$ 817 mi (redução de mais de 2,2 bi), gerando um retorno de  FCF de cerca de 10,4%. 

A companhia distribuiu em dividendos em 2024 o valor de US$ 4,36 bi. E programou nova recompra, no início de 2025, de até 120 milhões de ações (aproximadamente cerca de US$ 1,98 bi, em valor anualizado). Seu dividend yield é atualmente de 8,50%. 

Em relação ao endividamento, a relação dívida líquida/ativo total, em 31/12/2025, foi de 14,62% e razão dívida líquida/EBITDA foi de 123,34% (era de 117,88%, em 31/12/2024). Mas a empresa possui capacidade de pagamento suficiente para manter esse nível de uso de capitais de terceiros, pois sua liquidez geral tem sido sempre próxima de 0,55 a 0,58, já há vários trimestres consecutivos. E sua liquidez corrente tem se mantido em torno de 1,10 a 1,15 também ao longo de vários trimestres. 

A Vale é classificada entre as 5–6 maiores mineradoras globais por receita. Em um ranking de 2023/2024, a companhia ficou em 6º lugar com receita de US$ 41,46 bi, atrás de Glencore, Jiangxi Copper, BHP, Rio Tinto e Aluminum Corp of China. É a maior produtora mundial de minério de ferro e níquel, com presença global e integração vertical por meio de ferrovias e portos próprios. 

Em relação ao seu foco de longo prazo, a  companhia elaborou a estratégia “Vale 2030” , que visa crescimento alinhado à transição energética, com metas de manutenção de alta rentabilidade, gestão de capital disciplinada e ações efetivas de ESG. Seu planejamento está assentado em três pilares: 

1) Maximizar valor do minério de ferro com produtos premium, como pellets e briquetes verdes;

2) Expandir a base de metals (níquel e cobre) para abastecer o setor de veículos elétricos e energia limpa;

3) Fortalecer a governança ESG e as ações de segurança, incluindo desativação de barragens e cumprimento das metas de carbono (neutralidade até 2050, redução de 33% até 2030).

O novo CEO Gustavo Pimenta destaca o alinhamento da empresa com as metas ambientais e de desenvolvimento do governo brasileiro. Ele projeta a execução de um plano de investimentos de cerca de R$ 70 bi (aproximadamente US$ 12,8 bi) no “Programa Novo Carajás”, que conta com projetos como Serra Sul, que já se encontram na fase de 73% de execução e tem a meta de elevar a produção a 200 mil toneladas de minério e 350 mil t de cobre ao ano.

Em relação às ações de segurança, a mineradora eliminou em 2024 quatro barragens e concluiu  cerca de 57% do programa de desativação de barragens de risco. Ela mantém uma meta de ainda eliminar as de emergência nível 3 até o fim de 2025. Ainda em 2024, a Vale investiu US$ 533  milhões na desativação de barragens. E em 2023, este valor atingiu mais de US$ 458 milhões. Foram ações necessárias, em razão das tragédias do passado, mas que impactaram no maior endividamento da empresa. 

Os preços-alvos da ação VALE3, conforme as estimativas dos modelos mencionados, foram os que estão no gráfico a seguir. Nele, observamos que os valores mais conservadores foram o do modelo de Damodaran (R$ 66,14) e o do modelo de Passos (R$ 66,69). 

Em termos monetários, tais estimativas significam um lucro potencial de R$ 10,09 por ação, pelo modelo de Damodaran. Já pelo modelo de Passos, esse lucro é um pouco maior: de R$ 10,64. Na prática, no entanto, podemos considerar estes valores como iguais, considerando a margem de erro de 2 pontos porcentuais para cima ou para baixo. 


Estes preços-alvos correspondem, conforme o segundo gráfico, a um upside (potencial de alta) de 18,01%, de acordo com o modelo de Damodaran, e de 18,99%, pelo modelo de Passos. 


Finalmente, lembramos que VALE3 foi um ativo que teve uma alta, até esta data de 21/07/2025, de 6,77% neste ano; 5,75% neste mês de julho e de 2,73% neste dia mencionado. 

Portanto, consideramos que, mesmo com esta trajetória recente de alta, a ação ainda está descontada em relação ao seu valor intrínseco, isto é, ela pode subir até atingir o preço-alvo mencionado. 

Na semana que vem, divulgaremos uma nova análise de valuation aqui no blog. Bons investimentos! 

quarta-feira, 9 de julho de 2025

Relatório de valuation por machine learning da Taesa ON N2 (TAEE3)

A análise de valuation de hoje vai se concentrar na determinação do valor intrínseco da ação ordinária da Transmissora Aliança de Energia Elétrica -  Taesa ON N2 (TAEE3). 

Novamente, os cálculos foram feitos com base em seis seis modelos de valuation por machine learning (ML). Cinco destes modelos são considerados como os mais influentes da literatura sobre o tema. O sexto modelo foi desenvolvido por mim, assim como a elaboração dos outros cinco modelos em ML . São eles: Myers (1974), Miles & Ezzell (1980),  HPR - Harris & Pringle (1985) e Ruback (1995), Damodaran (1994), Fernández (2004 e 2008) e Passos (2025). 

Novamente, a intenção do blog é apenas fazer divulgação científica. Portanto, estes resultados estimados não devem ser considerados como recomendações de investimentos. Não são, portanto, "dicas" e quaisquer decisões sobre investimentos neste ativo não poderão ser atribuídas às análises aqui feitas. 

As estimativas de upsides (altas potenciais) da ação TAEE3 (Taesa ON N2) estão no primeiro gráfico. Quatro modelos (Myers, Miles & Ezzell, Harris/Pringle & Ruback e Fernández) apresentaram resultados potenciais positivos. Porém, todos eles estão muito próximos ou abaixo da margem de erro (de 2 pontos porcentuais para cima e para baixo). Isto é, na prática, não podem ser considerados como estimativas otimistas. 

E, por outro lado, dois modelos mais conservadores - o de Damodaran e o modelo que desenvolvi (Passos) - apontam para potenciais de queda (downsides) de, respectivamente, -14,35% e -8,26%. Estes dois resultados corroboram a análise de que não há, em termos mais rigorosos, potencial de alta na referida ação. Resta saber que se TAEE3 está próxima do seu valor intrínseco ou não. Veremos isto no próximo gráfico. 



O segundo gráfico mostra os resultados de preço-alvo do referido ativo.  Podemos ver, na comparação das estimativas de preços-alvos com o preço de fechamento da ação em 08/07/2025, que elas nos permitem supor que, no máximo, a ação está próxima do seu valor intrínseco ou até um pouco acima, considerando novamente a margem de erro de 2 pontos porcentuais para cima e para baixo. 


Finalmente, o terceiro gráfico mostra os valores intrínsecos da empresa como um todo. Novamente, os resultados não permitem afirmar que as ações da empresa estão caras ou baratas. Ao contrário, temos uma situação de indefinição em relação às estimativas de valuation da companhia como um todo. Ressaltamos, contudo, que o valor da empresa (entreprise value) inclui também a dívida da empresa e, portanto, é bem maior do que as outras estimativas de valor intrínseco e até mesmo do que o seu valor de mercado. 


As ações da Taesa são conhecidas por serem boas opções de investimento para investidores que buscam dividendos no longo prazo. Todavia, mesmo neste caso, é prudente comprar a ação com o que os mais renomados investidores fundamentalistas, como Warren Buffett, Benjamin Graham e Phillip Fisher, chamam de margem de garantia. Como a ação não está descontada, não há margem de garantia suficiente para  dizer que ela é uma boa opção de investimento até mesmo para quem busca dividendos no longo prazo. 

Há outras opções de empresas que pagam bons dividendos e que ainda estão abaixo do valor intrínseco (com margem de garantia, portanto). São os casos de PETR3 e SBSP3, as quais  já foram analisadas aqui no blog. 

Na semana que vem, divulgarei um novo relatório. Até lá e bons investimentos! 




terça-feira, 1 de julho de 2025

Relatório de valuation por machine learning da Petrobras ON (PETR3)

Dando sequência às divulgações das pesquisas sobre avaliação de ações, trago novos resultados obtidos por meio de seis modelos de valuation por machine learning (ML). Cinco destes modelos são considerados como os mais influentes da literatura sobre o tema. O sexto modelo foi desenvolvido por mim. A implementação dos cinco modelos em ML também é uma contribuição minha. São eles: Myers (1974), Miles & Ezzell (1980),  HPR - Harris & Pringle (1985) e Ruback (1995), Damodaran (1994), Fernández (2004 e 2008) e Passos (2025). 

Utilizei os seguintes softwares para computar as análises da ação PETR3 (Petrobras ON): o RStudio, para a coleta dos dados (web scraping) ; o Wolfram Mathematica, para a modelagem mais complexa dos cálculos de valuation e dos algoritmos de ML e, finalmente, o Excel para a elaboração dos gráficos.

Ressalto que, quando publico estes resultados, estou fazendo apenas divulgação científica. Nesse sentido, eles não são recomendações de investimentos, ok? Portanto, não devem ser considerados como "dicas" ou análises para balizar aplicações no referido ativo. 

Isto posto, vamos então estimativas de upsides da ação PETR3 (Petrobras ON) e alguns comentários sobre esta empresa. 

O primeiro gráfico mostra que as estimativas de preços-alvos da PETR3 computadas pelos 6 modelos e o seu preço de fechamento em 01 de julho de 2025. Observe que o preço-alvo mais conservador, isto é, aquele com menor desvio-médio em relação ao preço de fechamento, foi o do modelo de Damodaran (1994), que o estimou em R$ 44,73. Os outros modelos estimaram valores entre o R$ 45,22 (o VA Model, modelo concebido por mim) e o valor máximo de R$ 46,17, conforme o modelo de Fernández (2004 e 2008).  




O segundo gráfico evidencia os upsides (ou potenciais de alta) da ação PETR3, conforme os seis modelos de valuation. Novamente, observa-se que os modelos com estimativas mais conservadoras de upsides são, em ordem crescente, o de Damodaran (1994), com 30,68%; e o meu VA Model (2024), com 32,11%. Os outros modelos estimaram altas potenciais acima de 34%. Cabe ressaltar que não há um prazo definido para tais potenciais se realizarem. Em geral, modelos de valuation estimam valores que podem ser consolidados no médio e longo prazo. Todavia, não são raros os casos de altas que ocorrem em poucas semanas ou meses. 




Portanto, tendo em vista os dois resultados mais conservadores, dos modelos de Damodaran (1994) e VA Model (2024), o lucro potencial de quem eventualmente comprar ação com o valor de fechamento registrado no dia 01/07/2025, que foi de R$ 34,23 são, respectivamente: (i) lucro potencial de R$ 10,50 (conforme o modelo de Damodaran); e (ii) lucro potencial de R$ 10,99 (de acordo com o VA Model). 

 A Petrobras é a 4ª maior empresa de petróleo do mundo, conforme o ranking da Revista Forbes.  Além disso, é a maior empresa do Brasil é também é uma das que possuem melhor histórico de pagadora de dividendos entre as empresas que fazem parte da B3. Seu dividend yield atual possui um nível atrativo de 16,40%. Seu índice de P/L (preço/lucro) é de R$ 9,17. 

A empresa precisa de recursos para efetivar a exploração de petróleo na Bacia da Foz do Amazonas, no Amapá. Esta exploração conta com o apoio do presidente Lula, da presidente da Petrobras, Magda Chambriard e também do presidente do Senado Federal, Davi Alcolumbre (que é senador eleito pelo Amapá). Esta bacia encontra-se a 175 Km da costa do Amapá e a 500 Km da foz do Rio Amazonas. Também há outra bacia com potencial para exploração petrolífera no Brasil: a bacia de Pelotas, no sul do Rio Grande do Sul.  A presidente da Petrobras, Magda Chambriard, afirmou no último mês de maio que a exploração de petróleo e gás na Bacia de Pelotas, poderá alavancar o desenvolvimento econômico da região Sul do Brasil. 

Naturalmente, a estatal precisará de recursos para explorar petróleo nestas duas bacias. Portanto, ela continuará a remunerar bem os futuros e atuais acionistas, os quais, se adotarem uma estratégia de buy-and-hold com foco em dividendos poderão se beneficiar dos retornos dos investimentos futuros da petrolífera. 

Além dos dividendos, a ação ordinária da empresa, como vimos nas estimativas, está com desconto. Com isto, é possível ganhar tanto na valorização do ativo, quanto na geração de dividendos, o que é cenário ideal para qualquer acionista com foco em dividendos e valor. 

E na hipótese de a cotação de PETR3 cair, em razão das instabilidades no cenário internacional (guerras no Oriente Médio, na Ucrânia e Rússia, elevação das tarifas por Trump etc.)? Neste caso, um investidor com foco em valor e orientado para o longo prazo, poderia aproveitar a cotação mais baixa e comprar mais. Acionistas do tipo buy-and holder (isto é, aqueles que compram para guardar, com objetivo de ganhar dividendos) não se assustam com quedas no curto prazo, pois escolhem bem suas ações e baseiam-se nos fundamentos da empresa. 

Em relação à estes fundamentos, a empresa tem uma liquidez corrente de R$ 0,72 (isto é, possui 72 centavos para cada real de dívida de curto prazo); um ROE médio (return on equity ou retorno do patrimônio líquido) de expressivos 80,21% nos últimos 12 trimestres; margens líquida e de EBIT de, respectivamente, 29,88% e 141,99%; margem bruta de 51,13% e uma razão dívida líquida/ativo total de 28,43%.  

Na segunda-feira que vem voltarei a publicar mais resultados de valuation de empresas boas pagadoras de dividendos. E vou aguardar que esta ação suba e atinja seu valor intrínseco. Reparem que a ação da Sabesp, que analisei e postei aqui no blog está subindo desde que fiz a previsão. 

Já abri uma champanhe para comemorar a alta da SBSP3. Espero abrir outra para a uma alta da PETR3. 

Até a próxima postagem. 

Exatamente como previ: A ação ordinária da Sabesp atingiu o preço-alvo que estimei

Na postagem de 24 de abril deste ano, elaborei o relatório de valuation da ação ordinária da Sabesp (SBSP3). O relatório completo está aqui ...