quarta-feira, 26 de março de 2025

Mais crédito, mais consumo. Maior inflação, menor crescimento no futuro.

A estimativa do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) em relação ao novo programa de crédito consignado para empregados da iniciativa privada, o Crédito do Trabalhador, é de que o volume de recursos emprestados atinja aproximadamente R$ 120 bilhões já nos primeiros meses de vigência do programa recém-lançado. O programa prevê o uso do FGTS como garantia. 

O FGTS foi lançado no início do regime militar. Ideia de Roberto Campos e Octavio Gouvêa de Bulhões para aumentar os níveis de poupança privada do país. Foi concebido como um mecanismo institucional para promover a chamada "poupança forçada"", visando aumentar o investimento e a geração de empregos no longo prazo. Funcionou, pois nos anos seguintes o país vivenciou a década de maior crescimento em sua história. 

A maior parte destes R$ 120 bilhões, novamente segundo o MTE, será destinado à renegociação de dívidas. Conforme a reportagem da CNN Brasil,  o governo espera que cerca de R$ 40 bilhões do referido valor venha da troca dos antigos créditos privados já contratados pelo novo crédito consignado. O governo espera também que entre R$ 60 bilhões e R$ 80 bilhões  venham da transferência dos empréstimos contraídos no Crédito Direto ao Consumidor (CDC), que possuem juros bem mais altos,  para o novo Crédito do Trabalhador, que tem taxas menores. 

O presidente Lula e sua fiel escudeira no Congresso, Gleisi Hoffman, já anunciam com estardalhaço a nova medida, na tentativa de melhorar os índices de aprovação do governo. Estes índices atingiram os piores patamares ao longo dos três mandatos do atual chefe do Executivo. 

Todavia, qualquer pessoa com conhecimento mediano de Economia pode intuir que estes empréstimos não servirão apenas para saldar ou reescalonar dívidas anteriores. Grande parcela destes empréstimos certamente irá para estimular o consumo das famílias, impulsionando a inflação, pois a capacidade ociosa do setor industrial está  baixa e a inflação esperada para 2024 está acima da meta, conforme dados do Relatório Focus do Banco Central. 

Com isto, o governo do PT cede novamente à tentação de praticar populismo econômico. Incorre em um erro que na literatura macroeconômica chama-se "inconsistência dinâmica" ou "inconsistência intertemporal". Traduzindo: o erro de implementar políticas que estimulam a atividade econômica no curto prazo, mas que, no longo, podem trazer problemas sérios de aumento da inflação, recessão ou a chamada dominância fiscal. 

A dominância fiscal - patologia que acometeu o segundo mandato da ex-presidente Dilma Rousseff e nos trouxe a pior recessão da História da República -  surge quando os agentes desconfiam da  política fiscal do governo e a inflação não cede mesmo com juros reais muito elevados. E o nosso juro real, que é a taxa Selic descontada da inflação esperada, já é o quarto maior do mundo (conforme a tabela). 

Link para o artigo da CNN Brasil:

https://www.cnnbrasil.com.br/economia/macroeconomia/consignado-privado-pode-chegar-a-r-120-bi-nos-primeiros-meses-diz-governo/


terça-feira, 25 de março de 2025

Expectativas eleitorais podem favorecer ações da Petrobrás?

 A visão dos analistas do banco de investimentos UBS BB da influência das expectativas eleitorais sobre o comportamento futuro dos preços das ações da Petrobras merecem uma avaliação. 

Segue o trecho a seguir extraído do relatório do banco e citado na reportagem de Diego Gimenes, da revista Veja* (os grifos são meus): 

“Achamos que é muito cedo falar sobre eleições, mas uma possível reclassificação pode ser um gatilho. As eleições, que normalmente começam a dominar as discussões cerca de 12 meses antes, já se tornaram uma questão dos investidores, quase dois anos antes desta vez. As ações da Petrobras normalmente se destacam dos pares entre dois e três meses antes da eleição, mas isso pode ser antecipado se houver fluxos para o Brasil mais amplamente antes disso. Achamos que uma possível reclassificação pode trazer uma valorização de 20-70% para as ações, embora atualmente vejamos isso como opcionalidade e ainda não um motivo para possuir os ativos”

Como a popularidade do presidente Lula está em seu pior nível nos seus três mandatos e o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro aponta para um desfecho negativo para ele, cresceram as especulações sobre as próximas eleições e, com isto, sobre as perspectivas das cotações das ações da Petrobras.   

Já mencionei em postagem anterior a pesquisa que mostrou que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, é o preferido da Faria Lima. Até agora, Bolsonaro deu sinais de que não irá apoiá-lo, Isto que motiva outras especulações de que o ex-presidente irá optar por uma candidatura de algum dos seus filhos, dado que está inelegível e que não é improvável que seja preso até o final do ano. 

Portanto, como diz o relatório do UBS BB, ainda é cedo para considerar a compra de ações da Petrobras, Embora elas não estejam baratas, podem registrar alta nos próximos meses e anos, dada a política de investimentos anunciada recentemente pela sua presidente Magda Chambriard. Tais investimentos são apoiados pelo  próprio presidente Lula e pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre. Ambos desejam acelerar o início das explorações da estatal na margem equatorial do Amapá. 

Portanto, afora o endividamento considerável da estatal, ela provavelmente  realizará estes investimentos e isso pode pressionar sua geração de caixa e lucratividade. Nesse sentido, a compra de ações da Petrobras deve ser avaliada apenas para aqueles investidores que possuem foco no longo prazo e que podem esperar pelos primeiros resultados das referidas explorações.   

Ressalto que o objetivo do blog não é fazer recomendações de investimentos, mas apenas analisar cenários e divulgar resultados de pesquisas sobre valuation de ações obtidas por modelos de finanças computacionais desenvolvidos com algoritmos de  machine learning.

* Link para o artigo da Veja:  https://veja.abril.com.br/coluna/radar-economico/mercado-ja-pensa-em-eleicoes-e-acoes-da-petrobras-podem-ser-afetadas/ 

domingo, 23 de março de 2025

O candidato da Faria Lima

Na França antiga costumava-se dizer, após a morte de um rei: "rei morto, rei posto". Esta frase lembrava a ingratidão dos súditos que, logo em seguida a queda de um monarca, rapidamente o esqueciam e passavam a promover outro. 

Jair Bolsonaro, como sabemos, nunca foi rei e não está morto. Mas está inelegível e pode ser preso.  Por outro lado, Lula - que de rei só tem o apego ao poder - tenta recuperar-se do seu pior nível de popularidade nos seus três mandatos. 

Como os mercados financeiros buscam sempre antecipar e precificar eventos prováveis, já existe um favorito da Faria Lima para as eleições presidenciais do ano que vem:  o governador de São Paulo Tarcísio de Freitas. 

É o que mostra o estudo da Quaest Consultoria e Pesquisa feito junto com a Genial Investimentos. A pesquisa ouviu 106 analistas, gestores e economistas no período entre 13 e 17 de março. 

Os resultados mostraram que 93% dos entrevistados (todos eles participantes do mercado financeiro) apontam que Tarcísio é o político da direita com mais chances de vencer as eleições de 2026. 

O nome de Eduardo Bolsonaro, que se auto exilou nos EUA, aparece muito atrás: apenas 3% dos entrevistados lembraram de seu nome. 

Aumenta o investimento estrangeiro na B3

Os investidores estrangeiros  retornaram à B3 neste mês de março. O volume de ingressos de capital em renda variável atingiu 4,5 bilhões de reais, do dia primeiro até o último dia 17 de março (segunda-feira). 

O dólar está caindo, entre outros fatores, também por causa de um saldo positivo de entrada de capitais estrangeiros de mais de 13 bilhões de reais, no acumulado do ano. A queda do dólar pode aliviar um pouco a taxa de inflação futura. Ainda que a inflação não tenha subido nos últimos meses apenas por causa da elevação da taxa de câmbio nominal no final do ano passado, este alívio cambial pode ajudar a conter pressões inflacionárias motivadas por aumentos de custos de insumos importados (como fertilizantes, trigo, componentes eletrônicos etc.). 

Ressalte-se, contudo, que as expectativas de alta de inflação ainda se mantêm. Elas foram motivadas, sobretudo, pelo anúncio de medidas de contenção fiscal em novembro do ano passado, as quais  foram consideradas como frouxas pelo mercado, que temia também a possibilidade de taxação de dividendos pelo Congresso Nacional.  

Outro ponto que talvez esteja beneficiando este fluxo de ingresso de dólares na B3 são as instabilidades econômicas e políticas dos EUA. A incerteza neste país aumentou graças às recentes medidas e declarações de Donald Trump. 

O dólar está cotado em seu nível mais baixo do ano:  5,67 reais.


quinta-feira, 20 de março de 2025

Donald Trump e o Brasil

Contribuição para o website de notícias do Pelotas 13h. O programa de rádio comandado por Clayton Rocha é o de maior audiência no horário do almoço, nas rádios do extremo-sul do país. Uma das mesas-redondas mais antigas do país. 

Gosto muito de participar como debatedor e aprendo muito com o Clayton, o Paulo Gastal e com outros debatedores do programa. 

Escrevi este artigo em novembro do ano passado e, de certa forma, antecipei alguns problemas que o Trump está criando e pelos quais o Brasil está passando agora. 

https://pelotas13horas.com.br/artigo-donald-trump-e-o-brasil/

terça-feira, 11 de março de 2025

Entrevista no Jornal Hoje (17/02/2025)

Fui entrevistado pelo Jornal Hoje. A entrevista foi ao ar no dia 17/02/2025. 

Se houve aumento da produtividade do arroz, por que o arroz subiu de preço? Assista a reportagem de Lenise Slawsky Soares. 

Exatamente como previ: A ação ordinária da Sabesp atingiu o preço-alvo que estimei

Na postagem de 24 de abril deste ano, elaborei o relatório de valuation da ação ordinária da Sabesp (SBSP3). O relatório completo está aqui ...